segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O grande desafio ou Os grandes debatedores




EXTRA. Philadelphia




EXTRA, Indicação de filme


O discurso do rei.

EXTRAS. O discurso de Marco Antônio

Discurso de Marco Antônio, em Julio César, de William Shakespeare






O discurso de 

Marco Antônio no funeral de César


Adaptação: César A. Ferreira

Nota de introdução: um espaço dedicado aos assuntos de geopolítica não pode se furtar aos eventos internos, pois a prática política e suas idiossincrasias marcam a atuação externa de uma nação. Todavia, melhor cobertura existe em blogs, jornais e revistas dedicados aos assuntos políticos, por força da especialização destes, ademais, a prática opinativa, tão em voga, não satisfaz os critérios deste editor. Pois, ao visitar o perfil de um amigo numa rede social, dei-me conta deste clássico de Willian Shakespeare, parte central do drama Julio César, que para olhos atentos, afeitos à reflexão, muito explica e sugere. Daí a decisão de publicar O Discurso de Marco Antônio no Funeral de César, pois, não raro é em torno da destruição deliberada de lideranças carismáticas em função de ambições políticas pautadas pelo imediatismo e oportunismo míope, que nascem os dissensos e conflitos civis responsáveis por dilacerar nações por gerações, e gerações.

O discurso de Marco Antônio no funeral de César:

Amigos, romanos, cidadãos escutai-me!

Vim para enterrar Cesar, não para louvá-lo. O mal que os homens fazem a eles sobrevive. O bem que se faz é sepultado com ossos, que seja assim com Cesar.

O nobre Brutus lhes disse que Cesar era ambicioso. Se verdade que o era, a falta era muito grave, e Cesar pagou com a vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos demais. Pois Brutus é um homem honrado, e assim são todos eles; todos homens de honra.

Venho para falar no funeral de Cesar. Ele era meu amigo, fiel e justo para comigo. Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.

Trouxe muitos prisioneiros para Urbes que, para serem libertados, encheram os cofres de Roma. Isto lhes parece uma atitude ambiciosa de Cesar? Quando os pobres sofriam Cesar pranteava. Ora, a ambição torna as pessoas duras e sem compaixão. Entretanto, Brutus diz que Cesar era ambicioso. E Brutus é um homem honrado.

Todos vocês viram que nas Lupercais, eu, por três vezes, ofereci-lhe uma coroa real, a qual ele por três vezes a recusou. Isto era ambição? Mas, Brutus lhes diz que era ambicioso, e Brutus, todos o sabemos, é um homem honrado.

Não venho aqui para discordar da retórica de Brutus. Mas, tenho de lhes falar daquilo que sei. Vocês todos já o amaram e tinham razões para amá-lo. Qual a razão que os impede, agora, de render-lhe homenagem na morte?

O julgamento! Foste para o meio dos brutos animais, tendo os humanos perdido o uso da razão. Perdoai-me; mas tenho o coração, neste momento, no ataúde de César; é preciso calar até que ele ao peito me volte.

Ontem, a palavra de Cesar seria capaz de prevalecer neste mundo, agora, jaz aqui morta. Ah! Se eu estivesse disposto a levar os seus corações e mentes para o motim e a violência, mal falaria de Brutus e de Cassius, os quais, como sabem, são homens honrados. Deles não vou falar mal.

Prefiro falar mal do morto. Prefiro falar mal de mim e de vocês do que destes homens honrados. Mas, eis aqui, um pergaminho com o selo de Cesar. Eu o achei no seu armário. É o seu testamento. Quando os pobres lerem o seu testamento, porque, perdoem-me, não pretendo o ler, se arrojarão para beijar os ferimentos de Cesar, molhar os seus lenços em seu sagrado sangue.

Tenham paciência amigos, pois não devo lê-lo. Vocês não são de madeira ou ferro, e sim humanos. E, sendo humanos, ao ouvir o testamento de Cesar vão se inflamar, ficarão furiosos. É melhor que vocês não saibam que são os herdeiros de Cesar! Pois se souberem… O que vai acontecer? Vocês vão me obrigar a ler o testamento de Cesar? Então façam um círculo em volta do corpo e deixem-me mostrar-lhes César morto, aquele que escreveu este testamento.

Cidadãos! Se vocês lágrimas possuem, preparem-se para vertê-las. Todos vocês conhecem este manto. Vejam, foi neste lugar que a faca de Cassius penetrou. Através deste outro rasgão, Brutus, tão querido de Cesar, enfiou-lhe a faca, e, quando ele arrancou a sua maldita lâmina do ferimento, vejam como jorrou o sangue de Cesar.

Brutus, como vocês sabem, era o anjo de Cesar. Oh! Deuses, como Cesar o amava! O golpe de Brutus foi, de todos, o mais brutal e perverso. Pois, quando o nobre Cesar viu que Brutus o apunhalava, a ingratidão, mais do que a força da traidora punhalada, parou o seu coração.

Oh! Que queda brutal meus concidadãos. Então, eu e vocês, todos nós também tombamos, enquanto esta sanguinária traição florescia sobre nós.

Sim, agora vocês choram. Percebo que sentem um pouco de piedade por ele. Boas almas.Choram ao ver o manto do nosso Cesar despedaçado.

Bons amigos, queridos amigos; não quero estimular a revolta de vocês. Aqueles que praticaram este ato são honrados. Quais queixas e interesses particulares os levaram a fazer o que fizeram, não sei. Mas são sábios e honrados e tenho certeza que apresentarão a vocês as suas razões.

Eu não vim para roubar seus corações. Eu não sou um bom orador como Brutus. Sou um homem simples e direto, que ama os seus amigos.

Aqui está o testamento, com o selo de Cesar! A cada cidadão ele deixou 75 dracmas. Mais, para vocês lhes deixou os seus bens. Seus sítios deste lado do Tibre, com suas árvores, seu pomar, para vocês e para os herdeiros de vocês,  para todo o sempre.

Este era Cesar. Quando aparecerá outro como ele?

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Curso online de Lógica, Retórica e Argumentação

ALIMENTE O CÉREBRO
[Curso online indicado pelo professor Eduardo]



https://www.youtube.com/channel/UC3fBS89aQ7mt5G1TodU4HNg

OBRA DE REFERÊNCIA DO CURSO



Tratado da Argumentação: A Nova Retórica
Autores: Lucie Olbrechts-Tyteca; Chaim Perelman
Assunto Filosofia
Editora Martins Fontes
Edição 3ª
Número de Páginas 680
ISBN-13 9788578279042
Idioma Português
Data de Lançamento 2014

FALÁCIAS ARGUMENTATIVAS

FALÁCIAS ARGUMENTATIVAS

O filósofo, matemático e cientista americano Charles Sanders Peirce fala que as lógicas são "ferramentas para o raciocínio correto". Abaixo, 24 das mais comuns falácias lógicas argumentativas. A numeração não indica nenhum tipo de hierarquia entre elas.

1. Espantalho
Você desvirtuou um argumento para torná-lo mais fácil de atacar.

Ao exagerar, desvirtuar ou simplesmente inventar um argumento de alguém, fica bem mais fácil apresentar a sua posição como razoável ou válida. Este tipo de desonestidade não apenas prejudica o discurso racional, como também prejudica a própria posição de alguém que o usa, por colocar em questão a sua credibilidade – se você está disposto a desvirtuar negativamente o argumento do seu oponente, será que você também não desvirtuaria os seus positivamente?

Exemplo: Depois de Felipe dizer que o governo deveria investir mais em saúde e educação, Jader respondeu dizendo estar surpreso que Felipe odeie tanto o Brasil, a ponto de querer deixar o nosso país completamente indefeso, sem verba militar.

2. Causa Falsa (falácia do modus pones)
Você supôs que uma relação real ou percebida entre duas coisas significa que uma é a causa da outra.

Exemplo: Por exemplo: “A baixa taxa de natalidade em Portugal está ligada à crise económica atual”.

Uma variação dessa falácia é a "cum hoc ergo propter hoc" (com isto, logo por causa disto), na qual alguém supõe que, pelo fato de duas coisas estarem acontecendo juntas, uma é a causa da outra. Este erro consiste em ignorar a possibilidade de que possa haver uma causa em comum para ambas, ou, como mostrado no exemplo abaixo, que as duas coisas em questão não tenham absolutamente nenhuma relação de causa, e a sua aparente conexão é só uma coincidência.

Outra variação comum é a falácia "post hoc ergo propter hoc" (depois disto, logo por causa disto), na qual uma relação causal é presumida porque uma coisa acontece antes de outra coisa, logo, a segunda coisa só pode ter sido causada pela primeira.

Exemplo: Apontando para um gráfico metido a besta, Rogério mostra como as temperaturas têm aumentado nos últimos séculos, ao mesmo tempo em que o número de piratas têm caído; sendo assim, obviamente, os piratas é que ajudavam a resfriar as águas, e o aquecimento global é uma farsa.

Se Luísa estudar muito, entrará na universidade. Luísa entrou na Universidade. Logo, Luísa estudou muito

3. Apelo à emoção
Você tentou manipular uma resposta emocional no lugar de um argumento válido ou convincente.

Apelos à emoção são relacionados a medo, inveja, ódio, pena, orgulho, entre outros.

É importante dizer que às vezes um argumento logicamente coerente pode inspirar emoção, ou ter um aspecto emocional, mas o problema e a falácia acontecem quando a emoção é usada no lugar de um argumento lógico. Ou, para tornar menos claro o fato de que não existe nenhuma relação racional e convincente para justificar a posição de alguém.

Exceto os sociopatas, todos são afetados pela emoção, por isso apelos à emoção são uma tática de argumentação muito comum e eficiente. Mas eles são falhos e desonestos, com tendência a deixar o oponente de alguém justificadamente emocional.

Exemplo: Lucas não queria comer o seu prato de cérebro de ovelha com fígado picado, mas seu pai o lembrou de todas as crianças famintas de algum país de terceiro mundo que não tinham a sorte de ter qualquer tipo de comida.

4. A falácia da falácia
Supor que uma afirmação está necessariamente errada só porque ela não foi bem construída ou por que uma falácia foi cometida.

Há poucas coisas mais frustrantes do que ver alguém argumentar de maneira fraca alguma posição. Na maioria dos casos um debate é vencido pelo melhor debatedor, e não necessariamente pela pessoa com a posição mais correta. Se formos ser honestos e racionais, temos que ter em mente que só porque alguém cometeu um erro na sua defesa do argumento, isso não necessariamente significa que o argumento em si esteja errado.

Exemplo: Percebendo que Amanda cometeu uma falácia ao defender que devemos comer alimentos saudáveis porque eles são populares, Alice resolveu ignorar a posição de Amanda por completo e comer no Burger King todos os dias.

5. Ladeira Escorregadia
Você faz parecer que o fato de permitirmos que aconteça A fará com que aconteça Z, e por isso não podemos permitir A.

O problema com essa linha de raciocínio é que ela evita que se lide com a questão real, jogando a atenção em hipóteses extremas. Como não se apresenta nenhuma prova de que tais hipóteses extremas realmente ocorrerão, esta falácia toma a forma de um apelo à emoção do medo.

Exemplo: Armando afirma que, se permitirmos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, logo veremos pessoas se casando com seus pais, seus carros e seus macacos Bonobo de estimação.

6. Ad hominem
Você ataca o caráter ou traços pessoais do seu oponente em vez de refutar o argumento dele.

Ataques ad hominem podem assumir a forma de golpes pessoais e diretos contra alguém, ou mais sutilmente jogar dúvida no seu caráter ou atributos pessoais. O resultado desejado de um ataque ad hominem é prejudicar o oponente de alguém sem precisar de fato se engajar no argumento dele ou apresentar um próprio.

Exemplo: Depois de Salma apresentar de maneira eloquente e convincente uma possível reforma do sistema de cobrança do condomínio, Samuel pergunta aos presentes se eles deveriam mesmo acreditar em qualquer coisa dita por uma mulher que não é casada, já foi presa e, pra ser sincero, tem um cheiro meio estranho.

7. Tu quoque (você também)
Você evitar ter que se engajar em críticas virando as próprias críticas contra o acusador – você responde críticas com críticas.

Esta falácia, cuja tradução do latim é literalmente “você também”, é geralmente empregada como um mecanismo de defesa, por tirar a atenção do acusado ter que se defender e mudar o foco para o acusador.

A implicação é que, se o oponente de alguém também faz aquilo de que acusa o outro, ele é um hipócrita. Independente da veracidade da contra-acusação, o fato é que esta é efetivamente uma tática para evitar ter que reconhecer e responder a uma acusação contida em um argumento – ao devolver ao acusador, o acusado não precisa responder à acusação.

Exemplo: Nicole identificou que Ana cometeu uma falácia lógica, mas, em vez de retificar o seu argumento, Ana acusou Nicole de ter cometido uma falácia anteriormente no debate.

Exemplo 2: O político Aníbal Zé das Couves foi acusado pelo seu oponente de ter desviado dinheiro público na construção de um hospital. Aníbal não responde a acusação diretamente e devolve insinuando que seu oponente também já aprovou licitações irregulares em seu mandato.

8. Incredulidade pessoal
Você considera algo difícil de entender, ou não sabe como funciona, por isso você dá a entender que não seja verdade.

Assuntos complexos como evolução biológica através de seleção natural exigem alguma medida de entendimento sobre como elas funcionam antes que alguém possa entendê-los adequadamente; esta falácia é geralmente usada no lugar desse entendimento.

Exemplo: Henrique desenhou um peixe e um humano em um papel e, com desdém efusivo, perguntou a Ricardo se ele realmente pensava que nós somos babacas o bastante para acreditar que um peixe acabou evoluindo até a forma humana através de, sei lá, um monte de coisas aleatórias acontecendo com o passar dos tempos.

9. Alegação especial
Você altera as regras ou abre uma exceção quando sua afirmação é exposta como falsa.

Humanos são criaturas engraçadas, com uma aversão boba a estarem errados.

Em vez de aproveitar os benefícios de poder mudar de ideia graças a um novo entendimento, muitos inventarão modos de se agarrar a velhas crenças. Uma das maneiras mais comuns que as pessoas fazem isso é pós-racionalizar um motivo explicando o porque aquilo no qual elas acreditavam ser verdade deve continuar sendo verdade.

É geralmente bem fácil encontrar um motivo para acreditar em algo que nos favorece, e é necessária uma boa dose de integridade e honestidade genuína consigo mesmo para examinar nossas próprias crenças e motivações sem cair na armadilha da auto-justificação.

Exemplo: Antônio afirma ser vidente, mas quando as suas “habilidades” foram testadas em condições científicas apropriadas, elas magicamente desapareceram. Ele explicou, então, que elas só funcionam para quem tem fé nelas.


10. Pergunta carregada
Você faz uma pergunta que tem uma afirmação embutida, de modo que ela não pode ser respondida sem uma certa admissão de culpa.

Falácias desse tipo são particularmente eficientes em descarrilar discussões racionais, graças à sua natureza inflamatória – o receptor da pergunta carregada é compelido a se justificar e pode parecer abalado ou na defensiva. Esta falácia não apenas é um apelo à emoção, mas também reformata a discussão de forma enganosa.

Exemplo: Graça e Helena estavam interessadas no mesmo homem. Um dia, enquanto ele estava sentado próximo suficiente a elas para ouvir, Graça pergunta em tom de acusação: “como anda a sua reabilitação das drogas, Helena?”

11. Ônus da prova
Você espera que outra pessoa prove que você está errado, em vez de você mesmo provar que está certo.

O ônus (obrigação) da prova está sempre com quem faz uma afirmação, nunca com quem refuta a afirmação. A impossibilidade, ou falta de intenção, de provar errada uma afirmação não a torna válida, nem dá a ela nenhuma credibilidade.

No entanto, é importante estabelecer que nunca podemos ter certeza de qualquer coisa, portanto devemos valorizar cada afirmação de acordo com as provas disponíveis. Tirar a importância de um argumento só porque ele apresenta um fato que não foi provado sem sombra de dúvidas também é um argumento falacioso.

Exemplo: Beltrano declara que uma chaleira está, nesse exato momento, orbitando o Sol entre a Terra e Marte e que, como ninguém pode provar que ele está errado, a sua afirmação é verdadeira.

12. Ambiguidade
Você usa duplo sentido ou linguagem ambígua para apresentar a sua verdade de modo enganoso.

Políticos frequentemente são culpados de usar ambiguidade em seus discursos, para depois, se forem questionados, poderem dizer que não estavam tecnicamente mentindo. Isso é qualificado como uma falácia, pois é intrinsecamente enganoso.

Exemplo: Em um julgamento, o advogado concorda que o crime foi desumano. Logo, tenta convencer o júri de que o seu cliente não é humano por ter cometido tal crime, e não deve ser julgado como um humano normal.

“O ministro solicitou aos agentes da polícia que dispersassem os manifestantes, mas eles recusaram-se.” Aqui, ficamos sem saber se o termo “eles” se refere aos agentes da polícia ou se se refere aos manifestantes.

13. Falácia do apostador
Você diz que “sequências” acontecem em fenômenos estatisticamente independentes, como rolagem de dados ou números que caem em uma roleta.

Esta falácia de aceitação comum é provavelmente o motivo da criação da grande e luminosa cidade no meio de um deserto americano chamada Las Vegas.

Apesar da probabilidade geral de uma grande sequência do resultado desejado ser realmente baixa, cada lance do dado é, em si mesmo, inteiramente independente do anterior. Apesar de haver uma chance baixíssima de um cara-ou-coroa dar cara 20 vezes seguidas, a chance de dar cara em cada uma das vezes é e sempre será de 50%, independente de todos os lances anteriores ou futuros.

Exemplo: Uma roleta deu número vermelho seis vezes em sequência, então Gregório teve quase certeza que o próximo número seria preto. Sofrendo uma forma econômica de seleção natural, ele logo foi separado de suas economias.

14. Ad populum
Você apela para a popularidade de um fato, no sentido de que muitas pessoas fazem/concordam com aquilo, como uma tentativa de validação dele.

A falha nesse argumento é que a popularidade de uma ideia não tem absolutamente nenhuma relação com a sua validade. Se houvesse, a Terra teria se feito plana por muitos séculos, pelo simples fato de que todos acreditavam que ela era assim.

Exemplo: Luciano, bêbado, apontou um dedo para João e perguntou como é que tantas pessoas acreditam em duendes se eles são só uma superstição antiga e boba. João, por sua vez, já havia tomado mais Guinness do que deveria e afirmou que já que tantas pessoas acreditam, a probabilidade de duendes de fato existirem é grande.

15. Apelo à autoridade
Você usa a sua posição como figura ou instituição de autoridade no lugar de um argumento válido. (A popular "carteirada".)

É importante mencionar que, no que diz respeito a esta falácia, as autoridades de cada campo podem muito bem ter argumentos válidos, e que não se deve desconsiderar a experiência e expertise do outro.

Para formar um argumento, no entanto, deve-se defender seus próprios méritos, ou seja, deve-se saber por que a pessoa em posição de autoridade tem aquela posição. No entanto, é claro, é perfeitamente possível que a opinião de uma pessoa ou instituição de autoridade esteja errada; assim sendo, a autoridade de que tal pessoa ou instituição goza não tem nenhuma relação intrínseca com a veracidade e validade das suas colocações.

Exemplo: Impossibilitado de defender a sua posição de que a teoria evolutiva "não é real", Roberto diz que ele conhece pessoalmente um cientista que também questiona a Evolução e cita uma de suas famosas falas.

Exemplo 2: Um professor de matemática se vê questionado de maneira insistente por um aluno especialmente chato. Lá pelas tantas, irritado após cometer um deslize em sua fala, o professor argumenta que tem mestrado pós-doutorado e isso é mais do que suficiente para o aluno confiar nele.

16. Composição/Divisão
Você implica que uma parte de algo deve ser aplicada a todas, ou outras, partes daquilo.

Muitas vezes, quando algo é verdadeiro em parte, isso também se aplica ao todo, mas é crucial saber se existe evidência de que este é mesmo o caso.

Já que observamos consistência nas coisas, o nosso pensamento pode se tornar enviesado de modo que presumimos consistência e padrões onde eles não existem.

Exemplo: Daniel era uma criança precoce com uma predileção por pensamento lógico. Ele sabia que átomos são invisíveis, então logo concluiu que ele, por ser feito de átomos, também era invisível. Nunca foi vitorioso em uma partida de esconde-esconde.

17. Nenhum escocês de verdade...
Você faz o que pode ser chamado de apelo à pureza como forma de rejeitar críticas relevantes ou falhas no seu argumento.

Nesta forma de argumentação falha, a crença de alguém é tornada infalsificável porque, independente de quão convincente seja a evidência apresentada, a pessoa simplesmente move a situação de modo que a evidência supostamente não se aplique a um suposto "verdadeiro" exemplo. Esse tipo de pós-racionalização é um modo de evitar críticas válidas ao argumento de alguém.

Exemplo: Angus declara que escoceses não colocam açúcar no mingau, ao que Lachlan aponta que ele é um escocês e põe açúcar no mingau. Furioso, Angus berra que isso prova que Lachlan não é um escocês de verdade.

18. Genética
Você julga algo como bom ou ruim tendo por base a sua origem.

Esta falácia evita o argumento ao levar o foco às origens de algo ou alguém. É similar à falácia ad hominem no sentido de que ela usa percepções negativas já existentes para fazer com que o argumento de alguém pareça ruim, sem de fato dissecar a falta de mérito do argumento em si.

Exemplo: Acusado no Jornal de corrupção e aceitação de propina, o senador disse que devemos ter muito cuidado com o que ouvimos na mídia, já que todos sabemos como ela pode não ser confiável.

19. Preto-ou-branco ou falso dilema
Você apresenta dois estados alternativos como sendo as únicas possibilidades, quando de fato existem outras.

Também conhecida como falso dilema, esta tática aparenta estar formando um argumento lógico, mas sob análise mais cuidadosa fica evidente que há mais possibilidades além das duas apresentadas.

O pensamento binário da falácia preto-ou-branco não leva em conta as múltiplas variáveis, condições e contextos em que existiriam mais do que as duas possibilidades apresentadas. Ele molda o argumento de forma enganosa e obscurece o debate racional e honesto.

Exemplo: Ao discursar sobre o seu plano para fundamentalmente prejudicar os direitos do cidadão, o Líder Supremo falou ao povo que ou eles estão do lado dos direitos do cidadão ou contra os direitos.

20. Tornando a questão supostamente óbvia
Você apresenta um argumento circular no qual a conclusão foi incluída na premissa.

Este argumento logicamente incoerente geralmente surge em situações onde as pessoas têm crenças bastante enraizadas, e por isso consideradas verdades absolutas em suas mentes. Racionalizações circulares são ruins principalmente porque não são muito boas.

Exemplo: A Palavra do Grande Zorbo é perfeita e infalível. Nós sabemos disso porque diz aqui no Grande e Infalível Livro das Melhores e Mais Infalíveis Coisas do Zorbo Que São Definitivamente Verdadeiras e Não Devem Nunca Serem Questionadas.

Exemplo 2: O plano estratégico de marketing é o melhor possível, foi assinado pelo Diretor Bam-bam-bam.

21. Apelo à natureza
Você argumenta que só por que algo é "natural", aquilo é válido, justificado, inevitável ou ideal.

Só porque algo é natural, não significa que é bom. Assassinato, por exemplo, é bem natural, e mesmo assim a maioria de nós concorda que não é lá uma coisa muito legal de você sair fazendo por aí. A sua "naturalidade" não constitui nenhum tipo de justificativa.

Exemplo: O curandeiro chegou ao vilarejo com a sua carroça cheia de remédios completamente naturais, incluindo garrafas de água pura muito especial. Ele disse que é natural as pessoas terem cuidado e desconfiarem de remédios "artificiais", como antibióticos.

22. Anedótica
Você usa uma experiência pessoal ou um exemplo isolado em vez de um argumento sólido ou prova convincente.

Geralmente é bem mais fácil para as pessoas simplesmente acreditarem no testemunho de alguém do que entender dados complexos e variações dentro de um continuum.

Medidas quantitativas científicas são quase sempre mais precisas do que percepções e experiências pessoais, mas a nossa inclinação é acreditar naquilo que nos é tangível, e/ou na palavra de alguém em quem confiamos, em vez de em uma realidade estatística mais "abstrata".

Exemplo: José disse que o seu avô fumava, tipo, 30 cigarros por dia e viveu até os 97 anos -- então não acredite nessas meta-análises que você lê sobre estudos metodicamente corretos provando relações causais entre cigarros e expectativa de vida.

23. O atirador do Texas
Você escolhe muito bem um padrão ou grupo específico de dados que sirva para provar o seu argumento sem ser representativo do todo.

Esta falácia de "falsa causa" ganha seu nome partindo do exemplo de um atirador disparando aleatoriamente contra a parede de um galpão, e, na sequência, pintando um alvo ao redor da área com o maior número de buracos, fazendo parecer que ele tem ótima pontaria.

Grupos específicos de dados como esse aparecem naturalmente, e de maneira imprevisível, mas não necessariamente indicam que há uma relação causal.

Exemplo: Os fabricantes do bebida gaseificada Cocaçúcar apontam pesquisas que mostram que, dos cinco países onde a Cocaçúcar é mais vendida, três estão na lista dos dez países mais saudáveis do mundo, logo, Cocaçúcar é saudável.

24. Meio-termo
Você declara que uma posição central entre duas extremas deve ser a verdadeira.

Em muitos casos, a verdade realmente se encontra entre dois pontos extremos, mas isso pode enviezar nosso pensamento: às vezes uma coisa simplesmente não é verdadeira, e um meio termo dela também não é verdadeiro. O meio do caminho entre uma verdade e uma mentira continua sendo uma mentira.

Exemplo: Mariana disse que a vacinação causou autismo em algumas crianças, mas o seu estudado amigo Calebe disse que essa afirmação já foi derrubada como falsa, com provas. 


FONTE. CLICAR AQUI.

Eu sei, mas não devia, de Marina Colasanti (a crônica e seus aspectos retóricos/argumentativos)

EU SEI, MAS NÃO DEVIA

Marina Colasanti


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. 

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

O texto acima foi extraído do livro Eu sei, mas não devia, Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.(1972)


[Sobre a autora. Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.]



Literatura e Retórica exemplificada com fragmentos de sermões do Pe. Antonio Vieira (1608-1697)


PE. ANTÔNIO VIEIRA: COMO PREGAR
[A arte da oratória cristã]


TEXTO I

"O sermão há de ter um só assunto e uma só matéria. Por isso Cristo disse que o lavrador do Evangelho não semeara muitos gêneros de sementes, senão uma só: Exíit. quí semínat, semínae sêmen (11)i. Semeou uma só semente, e não muitas. Se o lavrador semeara primeiro trigo, e sobre o trigo semeara centeio, e sobre o centeio semeara milho grosso e miúdo, e sobre o milho semeara cevada, que havia de nascer? Uma mata brava, uma confusão verde. Quem semeia misturas, mal pode colher trigo. Se uma nau fizesse um bordo para o norte, outro para o sul, outro para leste, outro para oeste, como poderia ser a viagem? Por isso nos púlpitos se trabalha tanto e se navega tão pouco. Um assunto vai para um vento, outro assunto vai para outro vento, que se há de colher senão vento? O Batista convertia muitos em Judéia, mas quantas matérias tomava? Uma só matéria: Parate viam Domini12 a preparação para o remo de Cristo. Jonas converteu os ninivitas, mas quantos assuntos tomou? Um só assunto: Adhuc quadraginta dies, ei Ninive subvertetur13: a subversão da cidade. De maneira que Jonas em quarenta dias pregou um só assunto, e nós queremos pregar quarenta assuntos em uma hora? Por isso não pregamos nenhum. O sermão há de ser de uma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só matéria.

Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar, há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloqüência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria, e continuar e acabar nela. Quereis ver tudo isto com os olhos?

Ora vede. Uma árvore tem raízes, tem troncos, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim, há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas, porque há de ser fundado no Evangelho; há de ter um tronco, porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria. Deste tronco hão de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria, e continuados nela. Estes ramos não hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras. Há de ter esta árvore varas, que são a repreensão dos vícios, há de ter flores, que são as sentenças, e por remate de tudo há de ter frutos; que é o fruto o fim a que se há de ordenar o sermão. De maneira que há de haver frutos, há de haver flores, há de haver varas; há de haver folhas, há de haver ramos, mas tudo nascido e fundado em um só tronco, que é uma só matéria. Se tudo são troncos, não é sermão, é madeira. Se tudo são ramos, não é sermão, são maravalhas. Se tudo são folhas, não é sermão, são vérças. Se tudo são varas, não é sermão, é feixe. Se tudo são flores não é sermão, é ramalhete. Serem tudo frutos não pode ser; porque não há frutos sem árvores. Assim que nesta árvore, a que podemos chamar árvore da vida, há de haver o proveitoso do fruto, o formoso das flores, o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos ramos, mas tudo isto nascido e formado de um só tronco, e esse não levantado no ar, senão fundado nas raízes do Evangelho: Seminare semen." 

Sermão da sexagésima, de Pe. Antonio Vieira. [Pregado na Capela Real, no ano de 1655.]

[Embora se trate de apenas um fragmento do Sermão da Sexagésima, observa-se uma perfeita unidade entre os três parágrafos, caracterizando-os como um texto dissertativo constituído das três partes que estruturam essa modalidade de redação: introdução, desenvolvimento e conclusão. Cada parágrafo, por sua vez, apresenta-se como um parágrafo¬padrão (constituído das mesmas partes), configurando-se, pois, como uma unidade de sentido.]


TEXTO 2

O TEMPO E O AMOR

"O primeiro remédio que dizíamos é o tempo. Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira, embota-lhe as setas, com que já não fere, abre-lhe os olhos, com que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença, é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhes os defeitos, enfastia-lhes o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não amar, e o ter amado muito, de amar menos. Baste por todos os exemplos o do amor de Davi.
(...)
Estes são os poderes do tempo sobre o amor. Mas sobre qual amor? Sobre o amor humano, que é fraco; sobre o amor humano, que é inconstante; sobre o amor humano, que não se governa por razão, senão por apetite; sobre o amor humano, que, ainda quando parece mais fino, é grosseiro e imperfeito. O amor, a quem remediou e pôde curar o tempo, bem poderá ser que fosse doença, mas não é amor. O amor perfeito, e que só merece o nome de amor, vive imortal sobre a esfera da mudança, e não chegam lá as jurisdições do tempo. Nem os anos o diminuem, nem os séculos o enfraquecem, nem as eternidades o cansam: Omni tempore diligit, qui amicus est [Aquele que é amigo é-o em todo o tempo; Prov. 17,17], disse nos seus Provérbios o Salomão da Lei Velha; e o Salomão da Nova, Santo Agostinho, comentando o mesmo texto, penetrou o fundo dele com esta admirável sentença: Manifeste declarans amicitiam aeternam esse, si vera est; si autem desierit, nunquam vera fuit: Quis-nos declarar Salomão? diz Agostinho? que o amor que é verdadeiro tem obrigação de ser eterno, porque, se em algum tempo deixou de ser, nunca foi amor: Si autem desierit, nunquam vera fuit. Notável dizer! Em todas as outras coisas o deixar de ser é sinal de que já foram; no amor o deixar de ser é sinal de nunca ter sido. Deixou de ser? Pois nunca foi. Deixastes de amar? Pois nunca amastes. O amor que não é de todo o tempo, e de todos os tempos, não é amor, nem foi, porque se chegou a ter fim, nunca teve princípio. É como a eternidade, que se, por impossível, tivera fim, não teria sido eternidade: Declarans amicitiam aeternam esse, si vera est."

Padre Antônio Vieira (1608-1697), Sermão do Mandato, parte III, in Sermões.


Exercícios sobre o uso da crase (solicitado pelos alunos)

1. O uso da crase

2. Vamos --- Paris.
3. Vamos --- França.
4. Vamos --- Londres.
5. Vamos --- Madri.
6. Vamos --- Lisboa
7. Vamos --- Tailândia
8. Vamos --- Mauá.
9. Vamos --- Curitiba.
10. João voltou --- cidade natal.
11. Os documentos foram apresentados --- autoridades.
12. Vou --- pé.
13. Andou --- cavalo.
14. Estamos atentas --- modificações.
15. Permaneceu junto --- parede.
16. Emprestou o livro --- amiga.
17. As visitas virão --- horas.
18. Estava --- portas da morte.
19. --- saída, despediram-se de nós.
20. Chegou --- 8 horas, --- 10 horas ou  --- 1 hora?
21. O aumento entra em vigor --- zero hora.
22. Veio --- meia-noite em ponto.
23. --- vezes, chegavam --- pressas, mas sempre seguiam o horário --- risca
24. Matou o marido --- tiro ( --- queima-roupa?) ou --- machadadas?
25. --- quartas, ia --- casa do amante, --- escondidas e só voltava --- noite
26. Chegou --- pensar em desistir.
27. Devo --- você, --- tia Teresa, --- sua mãe, tudo o que possuo.
28. Vendas --- vista, --- prazo e --- crédito.
29. Vive --- custa do pai.
30. Estava em casa --- espera do irmão que fora --- óbito.
31. Sua tristeza aumentava --- medida em que os amigos partiam.
32. Serviu o filé --- moda da casa.
33. Fez alusão --- pesquisas sobre --- quais nos dedicamos
34. É uma situação semelhante --- que enfrentamos ontem
35. Andar --- pé, caminhar --- esmo, cheirar--- suor ou viajar --- cavalo: foi o que fizeram.
36. Passou --- ver fantasmas e --- fazer loucuras.
37. Pediram --- ela que saísse.
38. Cheguei --- esta conclusão.
39. Escreverei --- Vossa Excelência sem demora.
40. Recomendamos --- Vossa Senhoria para o carbo.
41. O número de mortos chegou --- dez.
42. Das três --- sete não atenderemos --- ninguém, --- todos, ou somente ---  clientela.
43. De três --- sete de março, nos melhores cinemas.
44. A polícia permaneceu --- distância.
45. O navio estava --- distância de 500 metros do cais.
46. O navio estava chegando --- terra.
47. Eleonor voltou --- terra natal.
48. Os astronautas regressaram --- Terra.
49. Voltou --- casa. (sua própria casa)
50. Fez uma visita --- Casa Branca.
51. Levou a encomenda --- sua tia.
52. Declarou-se --- Joana (ou à Joana).
53.   Ficou cara --- a cara com o assassino de sua mãe.
54.   A mim, ninguém engana.
55.   A quem interessaria o suborno da funcionária?

[Resposta dada em sala de aula, a partir da expressão "Depende D__; e estudo de exceções à regra.

Quinto dia

Abertura com discurso de Viola Davis homenageando Merryl Streep



Discurso do Presidente Obama (complementar) Destaques para os elementos retóricos acionados em ambos os discursos (Pathos, Ethos e Logos) e aspectos da Oratória (Pausas, ênfase/repetição, Humor, apelo emocional etc)

Parte expositiva da aula diretamente no quadro negro

Conotação e Denotação: definição.

A construção denotativa do texto para aproxima-lo da exatidão necessária a uma argumentação mais objetiva.

Exercícios de conversão de expressões conotativas para forma denotativa.

Exercícios de conversão de textos informais para o modo formal.

Exercícios de construção do texto argumentativo.

Estudo das conjunções coordenativas e subordinativas.

Quarto dia

Leitura de textos dissertativos-argumentativos


TEXTO I


LAÇOS DE FAMÍLIA E ALGUNS NÓS

As novas configurações familiares têm gerado complexas discussões no país, devido ao fato de envolver questões religiosas, morais e de direito.
O Brasil é – em teoria - um país laico, já que a religiosidade, principalmente a cristã/evangélica, norteia grande parte das relações e comportamentos. Atualmente, políticos mais conservadores apregoam a necessidade de preservação da família tradicional brasileira, como se essa não se fundamentasse na união de afetos. Para muitos, questões como união homoafetiva, defesa de gênero e militância pró-aborto a ameaçam, como se o respeito à diversidade e direitos legais das minorias LGBT's atacassem, de algum modo, a instituição familiar.
O moralismo burguês e retrógrado, pilar de uma sociedade patriarcal, machista e excludente, insiste em valorizar velhas caricaturas de família. O marido provedor, no controle racional da casa; a mãe amorosa, abnegada e grande cozinheira, ambos rodeados de filhos dóceis e submissos, tornaram-se figuras raras, quase estereótipos televisivos. Isso não significa que casar-se tenha “saído de moda”, mas que as uniões se tornaram parcerias sem a exigência de uma definição padrão; visto que não se baseiam tão somente no controle, dominação, submissão, mas em trocas.
O casamento é uma instituição legal e, portanto, um contrato sujeito a normas, direitos e deveres. Garantias jurídicas como divórcio, divisão de bens, pensões e herança não podem ser restritas às uniões heteronormativas. Hoje, casais gays, por meio da união estável (recentemente legalizada no Brasil), gozam, em teoria, dos mesmos direitos dos demais; enfrentaram, contudo, na prática, enormes dificuldades em casos de adoção de crianças.
As discussões em torno dos novos modelos de família precisam resultar em medidas mais democráticas, proteção e garantias legais às minorias e respeito à diversidade sexual, já que fundamentadas na liberdade individual. Acreditamos que uma sociedade mais justa só se fará, portanto, a partir da superação de preconceitos, justificativas pseudorreligiosas ou moralistas. Precisamos exigir do Estado criação, aplicação e fiscalização de leis que garantam a segurança de todas as formas de união, afinal, apesar de embaraços e nós, são os laços de amor que mantém vivas todas as famílias.


TEXTO 2


O TRABALHO COMO PODER TRANSFORMADOR

O trabalho, como valor moral, é um advento da modernidade, já que na Antiguidade o que diferenciava o escravo do homem livre era justamente o direito ao ócio. A conquista da autonomia, a independência financeira e a autoconfiança por se saber hábil e competente são atributos indissociáveis de um trabalhador pleno.
"Deus ajuda quem cedo madruga", ensina o dito popular. Mais do que um principio proverbial, ele explicita a importância de se possuir um ofício/ocupação dentro de uma sociedade ocidental, no seu modelo burguês, patriarcal e cristão. Trabalho, portanto, é esforço que não apenas recompensa monetariamente, mas que define o modo como o sujeito é visto socialmente.
Emancipar-se do controle dos pais e ter direito à palavra no lar, na maior parte dos lares brasileiros só se faz possível quando o sujeito contribui ativamente nas despesas e melhorias da casa. Se almejamos desde sempre nossa autossuficiência, poucas vezes o mercado de trabalho corresponde, de fato, às nossas expectativas.
Há empresas que investem na formação e capacitação de seus funcionários, entretanto, raras são aquelas que apresentam oportunidades reais de ascensão aos mais jovens. A baixa remuneração, a carga horária excessiva, o desrespeito ao desempenho alheio, e injustiças causadas por oportunistas antiéticos, são fatores desmotivantes àqueles que aspiram ao sucesso profissional.
O trabalho confere distinção ao homem, já que o seu valor moral é uma conquista do cidadão consciente de sua capacidade produtiva no o mundo. O sucesso profissional não se mede, pois, pelo poder de acumular bens materiais ou ostentá-los de modo infantil. Garantir a dignidade do assalariado, maior acesso à qualificação e ao emprego (sem onerar seus rendimentos) são, portanto, exigências a serem feitas aos nossos governantes, ainda mais em tempos de crise. A Justiça do Trabalho deve agir com mais rigor, coibindo o trabalho escravo e a exploração, principalmente dos jovens. O trabalho, desse modo, cumprirá seu objetivo mais nobre: garantir segurança, autonomia e futuro ao cidadão.



quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

ETHOS PATHOS e LOGOS (PowerPoint convertido em JPG)



Elementos da retórica no discurso de William Wallace, em Coração Valente

Discurso de Hannah Arendt definindo "a banalidade do mal" (fundamentado no LOGOS)

Discurso machista e sarcástico de "Tom Cruise" (ETHOS), no filme Magnolia

Discurso de Viola Davis (Fundamentado no PATHOS/LOGOS)

Terceiro dia

Terceiro dia

ELEMENTOS DE ARTICULAÇÃO DO TEXTO ARGUMENTATIVO

O uso das conjunções adverbiais (conectivos para dissertação)

Circunstâncias Expressas pelas Orações Subordinadas Adverbiais
a) Causa
   A ideia de causa está diretamente ligada àquilo que provoca um determinado fato, ao motivo do que se declara na oração principal. "É aquilo ou aquele que determina um acontecimento".
Principal conjunção subordinativa causal: PORQUE
Outras conjunções e locuções causais: como (sempre introduzido na oração anteposta à oração principal), pois, pois que, já que, uma vez que, visto que.
Exemplos:


As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte.
Como ninguém se interessou pelo projeto, não houve alternativa a não ser cancelá-lo.
Já que você não vai, eu também não vou.
Por ter muito conhecimento (= Porque/Como tem muito conhecimento), é sempre consultado. (Oração Reduzida de Infinitivo)

b) Consequência
As orações subordinadas adverbiais consecutivas exprimem um fato que é consequência, que é efeito do que se declara na oração principal. São introduzidas pelas conjunções e locuções: que, de forma que, de sorte que, tanto que, etc., e pelas estruturas tão... que, tanto... que, tamanho... que.
Principal conjunção subordinativa consecutiva: QUE (precedido de tal, tanto, tão, tamanho)
Exemplos:


É feio que dói. (É tão feio que, em consequência, causa dor.)
Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou concretizando-os.
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzida de Infinitivo)
Sua fome era tanta que comeu com casca e tudo.

c) Condição
Condição é aquilo que se impõe como necessário para a realização ou não de um fato. As orações subordinadas adverbiais condicionais exprimem o que deve ou não ocorrer para que se realize ou deixe de se realizar o fato expresso na oração principal.
Principal conjunção subordinativa condicional: SE
Outras conjunções condicionais: caso, contanto que, desde que, salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, sem que, uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo).
Exemplos:


Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, certamente o melhor time será campeão.
Uma vez que todos aceitem a proposta, assinaremos o contrato.
Caso você se case, convide-me para a festa.
Não saia sem que eu permita.Conhecendo os alunos (= Se conhecesse os alunos), o professor não os teria punido. (Oração Reduzida de Gerúndio)

d) Concessão
   As orações subordinadas adverbiais concessivas indicam concessão às ações do verbo da oração principal, isto é, admitem uma contradição ou um fato inesperado. A ideia de concessão está diretamente ligada aocontraste, à quebra de expectativa. 
Principal conjunção subordinativa concessiva: EMBORA
Utiliza-se também a conjunção: conquanto e as locuções ainda que, ainda quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de que.
Observe este exemplo:
Só irei se ele for.
A oração acima expressa uma condição: o fato de "eu" ir só se realizará caso essa condição for satisfeita.
Compare agora com:
Irei mesmo que ele não vá.
A distinção fica nítida; temos agora uma concessão: irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida. A oração destacada é, portanto, subordinada adverbial concessiva.
Observe outros exemplos:
Embora fizesse calor, levei agasalho.
Conquanto a economia tenha crescido, pelo menos metade da população continua à margem do mercado de consumo.
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / embora não estudasse). (reduzida de infinitivo)

e) Comparação
As orações subordinadas adverbiais comparativas estabelecem uma comparação com a ação indicada pelo verbo da oração principal.
Principal conjunção subordinativa comparativa: COMO
Por Exemplo:
Ele dorme como um urso.
Utilizam-se com muita frequência as seguintes estruturas que formam o grau comparativo dos adjetivos e dos advérbios: tão... como (quanto), mais (do) que, menos (do) que. Veja os exemplos:
Sua sensibilidade é tão afinada quanto a sua inteligência.
O orador foi mais brilhante do que profundo.
Saiba que:
É comum a omissão do verbo nas orações subordinadas adverbiais comparativas.
Por exemplo:


Agem como crianças. (agem)
Oração Subordinada Adverbial Comparativa

No entanto, quando se comparam ações diferentes, isso não ocorre.
Por exemplo: Ela fala mais do que faz. (comparação do verbo falar e do verbo fazer).

f) Conformidade
As orações subordinadas adverbiais conformativas indicam ideia de conformidade, ou seja, exprimem uma regra, um modelo adotado para a execução do que se declara na oração principal.
Principal conjunção subordinativa conformativa: CONFORME
Outras conjunções conformativas: como, consoante segundo (todas com o mesmo valor de conforme).
Exemplos:

Fiz o bolo conforme ensina a receita.
Consoante reza a Constituiçãotodos os cidadãos têm direitos iguais.
Segundo atesta recente relatório do Banco Mundial, o Brasil é o campeão mundial de má distribuição de renda.

g) Finalidade
As orações subordinadas adverbiais finais indicam a intenção, a finalidade daquilo que se declara na oração principal.
Principal conjunção subordinativa final: A FIM DE QUE
Outras conjunções finais: que, porque (= para que) e a locução conjuntiva para que.
Por Exemplo:

Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigos.
Felipe abriu a porta do carro para que sua namorada entrasse.

h) Proporção
As orações subordinadas adverbiais proporcionais exprimem ideia de proporção, ou seja, um fato simultâneo ao expresso na oração principal.

Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: À PROPORÇÃO QUE

Outras  locuções conjuntivas proporcionais:  à medida queao passo que. Há ainda as estruturas: quanto maior... (maior), quanto maior... (menor), quanto menor... (maior), quanto menor... (menor), quanto mais...(mais), quanto mais... (menos),  quanto menos... (mais), quanto menos... (menos).
Exemplos:
À proporção que estudávamos, acertávamos mais questões.
Quanto maior for a altura, maior será o tombo.
Lembre-se:
À medida que é uma conjunção que expressa ideia de proporção; portanto, pode ser substituída por "à proporção que".
Na medida em que exprime uma ideia de causa e equivale a "tendo em vista que" e só nesse sentido deve ser usada.

Por Exemplo:
Na medida em que não há provas contra esse homem, ele deve ser solto.
Atenção: não use as formas “à medida em que” ou “na medida que”.

i) Tempo
As orações subordinadas adverbiais temporais acrescentam uma ideia de tempo ao fato expresso na oração principal, podendo exprimir noções de simultaneidade, anterioridade ou posterioridade.
Principal conjunção subordinativa temporal: QUANDO
Outras conjunções subordinativas temporais: enquantomal e locuções conjuntivas: assim que, logo que, todas as vezes que, antes que, depois que, sempre que, desde que, etc.
Exemplos:

Quando você foi embora, chegaram outros convidados.
Sempre que ele vem, ocorrem problemas.
Mal você saiu, ela chegou.
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando terminou a festa) (Oração Reduzida de Particípio).