TEXTO I
LAÇOS DE FAMÍLIA E ALGUNS NÓS
As novas configurações familiares têm gerado complexas discussões
no país, devido ao fato de envolver questões religiosas, morais e
de direito.
O Brasil é – em teoria - um país laico, já que a religiosidade,
principalmente a cristã/evangélica, norteia grande parte das
relações e comportamentos. Atualmente, políticos mais
conservadores apregoam a necessidade de preservação da família
tradicional brasileira, como se essa não se fundamentasse na união
de afetos. Para muitos, questões como união homoafetiva, defesa de
gênero e militância pró-aborto a ameaçam, como se o respeito à
diversidade e direitos legais das minorias LGBT's atacassem, de algum
modo, a instituição familiar.
O moralismo burguês e retrógrado, pilar de uma sociedade
patriarcal, machista e excludente, insiste em valorizar velhas
caricaturas de família. O marido provedor, no controle racional da
casa; a mãe amorosa, abnegada e grande cozinheira, ambos rodeados de
filhos dóceis e submissos, tornaram-se figuras raras, quase
estereótipos televisivos. Isso não significa que casar-se tenha
“saído de moda”, mas que as uniões se tornaram parcerias sem a
exigência de uma definição padrão; visto que não se baseiam tão
somente no controle, dominação, submissão, mas em trocas.
O casamento é uma instituição legal e, portanto, um contrato
sujeito a normas, direitos e deveres. Garantias jurídicas como
divórcio, divisão de bens, pensões e herança não podem ser
restritas às uniões heteronormativas. Hoje, casais gays, por meio
da união estável (recentemente legalizada no Brasil), gozam, em
teoria, dos mesmos direitos dos demais; enfrentaram, contudo, na
prática, enormes dificuldades em casos de adoção de crianças.
As discussões em torno dos novos modelos de família precisam
resultar em medidas mais democráticas, proteção e garantias legais
às minorias e respeito à diversidade sexual, já que fundamentadas
na liberdade individual. Acreditamos que uma sociedade mais justa só
se fará, portanto, a partir da superação de preconceitos,
justificativas pseudorreligiosas ou moralistas. Precisamos exigir do
Estado criação, aplicação e fiscalização de leis que garantam a
segurança de todas as formas de união, afinal, apesar de embaraços
e nós, são os laços de amor que mantém vivas todas as famílias.
TEXTO 2
O TRABALHO COMO PODER TRANSFORMADOR
O trabalho, como valor moral, é um advento da modernidade, já que
na Antiguidade o que diferenciava o escravo do homem livre era
justamente o direito ao ócio. A conquista da autonomia, a
independência financeira e a autoconfiança por se saber hábil e
competente são atributos indissociáveis de um trabalhador pleno.
"Deus ajuda quem cedo madruga", ensina o dito popular. Mais
do que um principio proverbial, ele explicita a importância de se
possuir um ofício/ocupação dentro de uma sociedade ocidental, no
seu modelo burguês, patriarcal e cristão. Trabalho, portanto, é
esforço que não apenas recompensa monetariamente, mas que define o
modo como o sujeito é visto socialmente.
Emancipar-se do controle dos pais e ter direito à palavra no lar, na
maior parte dos lares brasileiros só se faz possível quando o
sujeito contribui ativamente nas despesas e melhorias da casa. Se
almejamos desde sempre nossa autossuficiência, poucas vezes o
mercado de trabalho corresponde, de fato, às nossas expectativas.
Há empresas que investem na formação e capacitação de seus
funcionários, entretanto, raras são aquelas que apresentam
oportunidades reais de ascensão aos mais jovens. A baixa
remuneração, a carga horária excessiva, o desrespeito ao
desempenho alheio, e injustiças causadas por oportunistas
antiéticos, são fatores desmotivantes àqueles que aspiram ao
sucesso profissional.
O trabalho confere distinção ao homem, já que o seu valor moral é
uma conquista do cidadão consciente de sua capacidade produtiva no o
mundo. O sucesso profissional não se mede, pois, pelo poder de
acumular bens materiais ou ostentá-los de modo infantil. Garantir a
dignidade do assalariado, maior acesso à qualificação e ao emprego
(sem onerar seus rendimentos) são, portanto, exigências a serem
feitas aos nossos governantes, ainda mais em tempos de crise. A
Justiça do Trabalho deve agir com mais rigor, coibindo o trabalho
escravo e a exploração, principalmente dos jovens. O trabalho,
desse modo, cumprirá seu objetivo mais nobre: garantir segurança,
autonomia e futuro ao cidadão.
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