sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Quarto dia

Leitura de textos dissertativos-argumentativos


TEXTO I


LAÇOS DE FAMÍLIA E ALGUNS NÓS

As novas configurações familiares têm gerado complexas discussões no país, devido ao fato de envolver questões religiosas, morais e de direito.
O Brasil é – em teoria - um país laico, já que a religiosidade, principalmente a cristã/evangélica, norteia grande parte das relações e comportamentos. Atualmente, políticos mais conservadores apregoam a necessidade de preservação da família tradicional brasileira, como se essa não se fundamentasse na união de afetos. Para muitos, questões como união homoafetiva, defesa de gênero e militância pró-aborto a ameaçam, como se o respeito à diversidade e direitos legais das minorias LGBT's atacassem, de algum modo, a instituição familiar.
O moralismo burguês e retrógrado, pilar de uma sociedade patriarcal, machista e excludente, insiste em valorizar velhas caricaturas de família. O marido provedor, no controle racional da casa; a mãe amorosa, abnegada e grande cozinheira, ambos rodeados de filhos dóceis e submissos, tornaram-se figuras raras, quase estereótipos televisivos. Isso não significa que casar-se tenha “saído de moda”, mas que as uniões se tornaram parcerias sem a exigência de uma definição padrão; visto que não se baseiam tão somente no controle, dominação, submissão, mas em trocas.
O casamento é uma instituição legal e, portanto, um contrato sujeito a normas, direitos e deveres. Garantias jurídicas como divórcio, divisão de bens, pensões e herança não podem ser restritas às uniões heteronormativas. Hoje, casais gays, por meio da união estável (recentemente legalizada no Brasil), gozam, em teoria, dos mesmos direitos dos demais; enfrentaram, contudo, na prática, enormes dificuldades em casos de adoção de crianças.
As discussões em torno dos novos modelos de família precisam resultar em medidas mais democráticas, proteção e garantias legais às minorias e respeito à diversidade sexual, já que fundamentadas na liberdade individual. Acreditamos que uma sociedade mais justa só se fará, portanto, a partir da superação de preconceitos, justificativas pseudorreligiosas ou moralistas. Precisamos exigir do Estado criação, aplicação e fiscalização de leis que garantam a segurança de todas as formas de união, afinal, apesar de embaraços e nós, são os laços de amor que mantém vivas todas as famílias.


TEXTO 2


O TRABALHO COMO PODER TRANSFORMADOR

O trabalho, como valor moral, é um advento da modernidade, já que na Antiguidade o que diferenciava o escravo do homem livre era justamente o direito ao ócio. A conquista da autonomia, a independência financeira e a autoconfiança por se saber hábil e competente são atributos indissociáveis de um trabalhador pleno.
"Deus ajuda quem cedo madruga", ensina o dito popular. Mais do que um principio proverbial, ele explicita a importância de se possuir um ofício/ocupação dentro de uma sociedade ocidental, no seu modelo burguês, patriarcal e cristão. Trabalho, portanto, é esforço que não apenas recompensa monetariamente, mas que define o modo como o sujeito é visto socialmente.
Emancipar-se do controle dos pais e ter direito à palavra no lar, na maior parte dos lares brasileiros só se faz possível quando o sujeito contribui ativamente nas despesas e melhorias da casa. Se almejamos desde sempre nossa autossuficiência, poucas vezes o mercado de trabalho corresponde, de fato, às nossas expectativas.
Há empresas que investem na formação e capacitação de seus funcionários, entretanto, raras são aquelas que apresentam oportunidades reais de ascensão aos mais jovens. A baixa remuneração, a carga horária excessiva, o desrespeito ao desempenho alheio, e injustiças causadas por oportunistas antiéticos, são fatores desmotivantes àqueles que aspiram ao sucesso profissional.
O trabalho confere distinção ao homem, já que o seu valor moral é uma conquista do cidadão consciente de sua capacidade produtiva no o mundo. O sucesso profissional não se mede, pois, pelo poder de acumular bens materiais ou ostentá-los de modo infantil. Garantir a dignidade do assalariado, maior acesso à qualificação e ao emprego (sem onerar seus rendimentos) são, portanto, exigências a serem feitas aos nossos governantes, ainda mais em tempos de crise. A Justiça do Trabalho deve agir com mais rigor, coibindo o trabalho escravo e a exploração, principalmente dos jovens. O trabalho, desse modo, cumprirá seu objetivo mais nobre: garantir segurança, autonomia e futuro ao cidadão.



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